O Marketing e o Agronegócio II

24-02-2002 

Colocadas as premissas básicas e o quadro onde está desenhado o cenário mundial atual, focaremos nossos argumentos na necessidade de desenvolvermos conceitos, dentro da ciência “Marketing”, adequadas às aplicações no agronegócio. Como primeira tarefa conceituaremos, em nosso trabalho, o agronegócio.
Dois professores de Harvard foram os pais do neologismo agribusiness. John H. Davis e Ray Goldberg, usando as técnicas matriciais de insumo-produto, desenvolvidas pelo Nobel de Economia de 1973 Wassily Leontief, observaram que havia um novo sistema diferente do antigo, em gênero e espécie, o agribusiness, que seria a soma total das operações de produção e distribuição de insumos e novas tecnologias agrícolas, da produção propriamente dita, do armazenamento, do transporte, do processamento e distribuição dos produtos agrícolas e seus derivados. Há uma preocupação com a informação. A informação seria o meio de se agregar P&D aos produtos e processos, ou em outras palavras, agregar valor. “Organizar-se é integrar informação. Informação é tecnologia. É a informação que permite agregar valor ao produto.” Consideram que “nosso agribusiness é tipicamente um provedor de matérias primas para empresas que adicionam valor no âmbito internacional”. Sobre isto é feita uma interessante analogia com o sapato, típico produto da cadeia do agribusiness com agregação de valor. “A única diferença existente entre os sapatos de nossos avós, de couro rijo e solado com prego e o calçado de hoje é que o calçado moderno é o de nossos avós mais informação.”
“Para que o sistema do agribusiness possa avançar como um todo, em meio a um mundo de mudanças, é preciso dispor de um sistema de informações que possibilite obter informações em tempo real sobre todos os componentes do sistema e de sua integração.”
Neste ambiente do agribusiness estarão os atores de nossa proposta de discutir o marketing com foco no agronegócio: “os fornecedores de bens e serviços para a agricultura, os produtores rurais, os processadores, os transformadores e distribuidores e todos os envolvidos na geração e fluxo dos produtos de origem agrícola até o consumidor final.” (Associação Brasileira de Agribusiness - ABAG, 1993).
No final de Novembro de 2001, aconteceu em Uberaba (MG) O Simpósio Brasileiro da Agroindústria que merece ser mencionado pela qualidade de seus Palestrantes e pelo conteúdo de sua proposta: “ garantir a sustentabilidade na produção de alimentos. Tal sustentabilidade, se não conduzida adequadamente, com políticas de fomento à produção e tecnologia, pode induzir a investimentos de alto risco, causar desequilíbrio na balança comercial, agressões ao meio ambiente e, até mesmo, redução na oferta de empregos. Assim sendo, o Simpósio Brasileiro da Agroindústria visa despertar os participantes, então componentes dos segmentos da agroindústria, para a necessidade de garantir a perpetuação dos sistemas de produção segundo as óticas social, econômica e ambiental. Neste sentido, procuramos identificar nichos e tendências de mercado, bem como processos e atividades atualmente muito difundidas na cadeia de produção de alimentos. Para complementar a proposta, tornou-se necessário incluir o associativismo e a diversificação de atividades para melhorar a renda das pequenas propriedades.” Destaco outra característica do evento que proporcionará, a curto e médio prazo, resultados espetaculares. O local extremamente adequado, Casa do Folclore, onde conforto, tranqüilidade e praticidade, fomentou uma formidável troca de conhecimentos, um caldeamento de experiências, teorias, práticas e inexperiências. Os astros eram produtores rurais, professores de alta estirpe, pesquisadores, economistas, funcionários públicos, representantes de Cooperativas e os estudantes da FAZU – Faculdade de Agronomia e Zootecnia de Uberaba, organizadora do evento que tinha esta intenção: juntar a prática secular com o estado da arte da agropecuária, os órgãos públicos federais, estaduais e municipais, todos, questionando e sendo questionados, com a efetiva participação dos futuros técnicos do agronegócio. O grande destaque foi para estes estudantes que, cheios de dúvidas, beberam de todo o conhecimento e mostraram suas intenções: a tendência dos jovens para corrigir as falhas de seus pais e avós e cuidarem melhor do planeta, enquanto produzem.
Foi uma grande atividade de marketing para um público, um setor, que torna-se cada vez mais importante no cenário mundial.
Continuamos mostrando um cenário onde acontece o agronegócio para, nos próximos capítulos, apresentarmos instrumentos de marketing que serão aplicados para o desenvolvimento do setor. Adiantamos que a grande mudança tem acontecido na cabeça do consumidor e, infelizmente, a resposta dos atores do agronegócio tem sido lenta. Este será nosso principal foco: como dirigir o planejamento de nossas atividades levando em conta as grandes mudanças decorrentes de um consumidor poderoso, exigente e protegido.


Marcos Garcia Jansen
Diretor de Política Agrícola - SEAPA

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